Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Livro da Rosilene Jorge dos Ramos



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Gambiarraprofana.blogspot.com

quarta-feira, 25 de abril de 2012

QUADRO


Pintei um quadro na parede
Um quadro meio sem nada
Sem cores para brotar
Um quadro sem enfeites

Pintei um quadro pincelado de dores
De olhares sem vulto
Sem espelho para se fitar
Sem paredes para pintar

Pintei um quadro chamado solidão
Com muitas pessoas ao seu redor
E um sol tímido partindo no entardecer

Um quadro que não será lembrando
Mostra apenas o triste dia que vi morrer
Entre cores brancas do amanhecer

quarta-feira, 18 de abril de 2012

TEMPO QUE SE FOI


                      O dia amanhecia com o sol tocando as folhas verdes das árvores, acariciando as flores que enfeitavam a entrada da varanda. Folhas e flores dançavam levemente levadas pelo vento que chegava junto com o sol, alegrando a manhã desse novo dia.
                     Chegou como se fosse do nada, abriu a porteira de madeira e foi entrando pelo quintal sem prestar atenção nas folhas e nem nas flores que dançavam levadas pelo vento. Caminhou até o tanque e serviu-se de água fresca e nem mesmo percebeu o olhar do menino que acompanhava pela janela os seus passos. Tirou o chapéu e bateu na roupa com força para tirar a poeira que acumulou durante a caminhada. O menino saiu da janela, atravessou a sala, abriu a porta e foi caminhando pela varanda ao encontro do estranho, desceu os degraus e foi passo a passo até o tanque onde o estranho estava parado olhando a simples casa. Olharam-se por alguns minutos sem falar nada, até que o estranho quebrou o silêncio.

- Você mora aqui?
+ Sim – respondeu o menino com voz tímida e baixa
- Não vai me convidar para sentar nos degraus da varanda pelo menos?

O menino acenou que sim e caminharam para a varanda em silêncio e sentaram-se nos degraus.
+ De onde você vem? – perguntou o menino
- De terras de meu Deus, onde andei fugindo de mim mesmo
+ Conheço seu rosto de algum lugar e não sei de onde
- Talvez de algum retrato antigo ou algum sonho esquecido

                 Os dois ficaram em silêncio observando as aves que cortavam o céu, cortavam o tempo voando de encontro a novos, antigos lugares, paisagens remotas, ou cortando os horizontes sem destino, apenas cortando o silêncio com suas asas.

 O estranho fitou a cerca por um momento e disse:
- Já vivi aqui
+ Onde? Aqui?
- Sim, há anos atrás
+ E por que foi embora?
- Talvez por não acreditar na vida
+ Na sua vida?
- Em tudo
+ E o que fez esses anos todos?
- Andei por ai, sentindo o vento da solidão
+ Tem filhos?
- Sim, mas não me conhece
+ Mas talvez ele possa sentir você, sentir sua falta
- Ninguém sente falta daquilo que não conhece
+ Talvez sinta e você nem mesmo sabe o quanto

O estranho ficou um pouco distante, pensativo
+ Preciso regar o jardim
- Tem alguém além de você em casa?
+ Minha avó, ela está doente, não tem muitos dias, diz que logo partirá
- E sua mãe?
+ Partiu pro céu
O estranho calou-se, ficou quieto, entristecido e de seus olhos nasceram pequenas e sentidas lágrimas e por fim falou:
- Vamos regar o jardim

Os dois ficaram ali um bom tempo regando o jardim, depois ficaram caminhando pelo quintal, passos leves e lentos, sentindo o calor do sol em seus rostos e de repente o estranho falou:
- Preciso ir
+ Pra onde vai?
- Sem rumo, seguirei meu destino
+ Fique
- Acho melhor não
+ Por que não?
- Tenho lembranças do tempo que não vivi, que perdi
+ Poderá recuperar
- Não há o que recuperar
+ Não me esqueça
- Nunca te esquecerei, adeus

E assim o estranho foi caminhando em direção a porteira, colocou o chapéu, abriu a porteira devagar e saiu do quintal seguindo rumo ao horizonte sem fim, rumo a sua própria solidão. O menino ficou olhando um tempo, sentindo um aperto no coração, virou as costas e entrou na casa para ver a avó, que observou por alguns momentos, pela janela do quarto e voltou a deitar-se. O menino entrou no quarto, chegou perto da avó e falou:
+ Conheço o estranho de algum lugar e acho que sempre senti sua falta
= Olhe o retrato na cômoda do seu quarto, aquele que nunca prestou atenção
O menino saiu e foi ao seu quarto, olhou o retrato e voltou
= Quem são no retrato?
+ Minha mãe, o estranho e eu criança no colo de minha mãe
= E agora sabe quem ele é?
+ Sim
= Quer ir atrás dele?
+ Não
= Ficará sozinho, não tenho muitos dias de vida
+ Mas tentarei ser assim, sozinho
O menino saiu do quarto da avó, atravessou a sala e debruçou-se na janela e ali ficou olhando a distância que o separou do futuro e do estranho.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

PASSOS NO QUINTAL

A madrugada já estava avançada quando foi despertado pelo pesadelo que
Infligia seu sono. O quarto estava iluminado por uma tênue luz do abajur na cabeceira ao lado da cama. Levantou-se, calçou os pequenos chinelos e caminhou para fora do quarto. O corredor estava escuro, mas conseguia enxergar a escada. Desceu devagar, degrau por degrau, ainda assustado pelo pesadelo que o despertou no meio da noite. Chegou na sala que também encontrava-se na penumbra e seguiu devagar, quase que tateando as paredes em direção à porta.
A noite estava fria e caía uma chuva fina. A porta foi aberta e o pequeno menino apareceu timidamente, sentindo o frescor na varanda, seus olhos estavam sonolentos e sua face deixava transparecer um certo temor. Caminhou lentamente para o quintal, ouvindo as vozes da noite que sussurravam seus temores, suas fantasias, sua esperança de alcançar a liberdade que está tão distante ainda. Parou no meio do quintal, próximo ao balanço, que viajava de um lado para o outro, empurrado pelo vento, e sentou-se na grama para brincar com as pedras sem importar-se com a chuva fina que molhava seu rosto. As pedras subiam e desciam seguidas pelo olhar e aparadas pelas pequenas mãos antes de tocar o solo. As pedras subiam e desciam levando-o sonhar através das estrelas escondidas pelas nuvens, pela chuva que refrescava sua alma. Deixou as pedras de lado, levantou-se e seguiu caminhando. O portão estava à sua frente, era só abrir e a liberdade da rua estaria inteira, vacilou um instante, imaginando que os monstros lá de fora, da rua, da vida, poderiam ser piores que os que habitavam seu quarto. Adormeceu no gramado, cansado de procurar uma saída, de ser prisioneiro do castigo no quarto escuro, habitado pelos monstros das histórias infantis feitas e contadas para ninar crianças, onde os pesadelos entravam com o vento pela janela.

Arnoldo Pimentel
Se você quer ler uma poesia bem diferente e de originalidade, conheça a poesia hermética dadaísta de Sérgio Salles-Oigers.
Sérgio Salles-Oigers é editor da Gambiarra Profana, poeta,compositor hermético dadaísta de plantão,  se desejar siga o blog e comente.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

FUNERAL VIKING

Tenho um castelo no meu mar
Um castelo sem brilho
Sem torres
Sem cores
Um castelo que é meu mar

Um castelo coberto de chamas
Que só irão se apagar
Quando eu afundar
Quando eu aprender a caminhar

Tenho um castelo coberto de luzes
Estrelas que são meu pomar
Um castelo sem glórias para lembrar

Um castelo que perdeu a esperança
Depois da tempestade
Na bonança

Tenho um castelo incendiado no meu mar
Mar onde não posso navegar
Mar de estrelas apagadas
Que aos poucos vão me afundar

Tenho um castelo infinito de onde nunca
Poderão me tirar