Arnoldo Pimentel
quarta-feira, 30 de maio de 2012
CAIS DE SAL
Hoje vou
partir
Seguir
qualquer caminho
Talvez
pelo mar
Durante o
dia
Pela
claridade do sol
Ou à
noite
Pela luz
do farol
Vou
deixar no passado
O cais de
sal
Seu jeito
entristecido
Seus
seios plácidos de luar
Seus
lábios secos de sonhar
Nas
pradarias escuras
Sem
querer se abandonar
Arnoldo Pimentel
Arnoldo Pimentel
sexta-feira, 25 de maio de 2012
GATO QUE COMIA TOMATES
Em 2010
escrevi uns poucos poemas infantis, que até hoje não aprendi direito a
escrever, a pedido da minha amiga Gabriela Boechat, artista plástica, poetisa e
professora, para que ela fizesse um trabalho com seus alunos em sala de aula, o
poema abaixo é um deles.
GATO QUE
COMIA TOMATES
(Batata era o nome do gato preto de minha mãe nos anos 80, que adorava comer tomates)
Batata
era um gato estranho
Bem
diferentes dos outros bichanos
Não
dormia de dia
Não tinha
medo de água fria
Batata
era preto como a noite sem lua
Gostava
do muro de frente pra rua
Corria
atrás da bola
Tinha
medo de sacola
Batata
ficava olhando o frango
O peixe e
a carne
Mas
partia mesmo para o ataque
Quando
via o danado do tomate
Comia
tomates até cansar
Depois
sim ia se deitar
Só assim
não via o dia passar
Arnoldo
Pimentel
Visite a Folha Cultural Pataxó e leia o excelente texto
do amigo e escritor Jorge Pimenta, link abaixo:
sábado, 19 de maio de 2012
ASA DELTA
Se o sol brilha
Quero você ao meu lado
Quero você inteira
E não em pedaços
Se o céu é cinza
E a chuva é fria
Quero te abraçar
E te aquecer
Tudo esquecer
Você é a asa delta
Onde me agarro
E salto num vôo livre
Enchendo meu vazio
Sobre as praias do Rio
Se é noite
Quero amar você
Até adormecer
Sem ver o sol nascer
Quero você ao meu lado
Quero você inteira
E não em pedaços
Se o céu é cinza
E a chuva é fria
Quero te abraçar
E te aquecer
Tudo esquecer
Você é a asa delta
Onde me agarro
E salto num vôo livre
Enchendo meu vazio
Sobre as praias do Rio
Se é noite
Quero amar você
Até adormecer
Sem ver o sol nascer
Arnoldo Pimentel
domingo, 13 de maio de 2012
UM CANTO TORTO QUE É A VIDA
Este poema foi escrito em 1983 e publicado nos
livros “Nova Poesia Brasileira”(1988) da Shogun Editora e Arte e “Ventos na
Primavera” de Arnoldo Pimentel pela Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó
Ele
soltou seu canto torto
Pelo
mundo para cortar minha carne
Seu canto
é a vida
E a vida
cortou minha carne
Me deixou
desesperado
Pelas
veredas incertas das pessoas
Ando
pelas ruas
Que se
parecem um sertão
Sentindo
sede de felicidade
E
morrendo cada minuto
Que vivo
em vão
Ele
soltou seu canto torto feito faca
E meu
sangue derramou
E através
dos anos me desespero
Sem
nenhuma saída
Apenas
alucinações me cercam
Me
escondo dentro de mim
Mas o
espelho reflete minha aflição
Tenho
medo
Se a vida
me cortar outra vez
Ficarei
esquecido
Hoje dias das mães meus blogs terão publicados apenas
poemas que escrevi no tempo em que ela estava entre nós, poemas antigos que
fazem parte da minha história, minha mãe Helena que nos deixou em 1995 sempre
leu meus trabalhos, desde que escrevia poemas tolos com 16 anos por ai.Saudades
dela.Links abaixo, basta passar o mouse.
domingo, 6 de maio de 2012
SILÊNCIOS RABISCADOS NA JANELA
Já havia alguns dias que o menino
olhava pela janela do quarto, que ficava no andar de cima da casa. Todos os
dias antes de descer para o banho e o café,
ele abria a janela e olhava na direção da cerca de madeira, pintada de
branco, bem no final da cerca, quase junto com a cerca do vizinho. Quando estava chovendo ele não abria a
janela, mas mesmo assim olhava, com um olhar temeroso, olhava como que pedindo
a Deus. Todos os dias pela manhã o menino olhava pela janela e depois descia,
tomava banho, café e ia para a escola. Quando voltava da escola, almoçava,
assistia na tv seu programa favorito e depois passava o tempo brincando dentro
de casa ou no quintal, sempre ficava brincando sozinho, não havia quase
crianças onde ele morava, ficava com sua avó, sua mãe saia muito cedo pra
trabalhar e só voltava tarde da noite, depois da faculdade. Seu pai há muito
tempo não via, um dia foi embora, nem mesmo lembrava seu rosto. A noite ficava
um tanto triste, sua avó preparava o jantar e depois do banho subia para dormir.
Entrava no quarto, abria a janela e olhava para o quintal, lá na cerca, no
mesmo ponto que olhava toda manhã, depois fechava a janela e orava.
- Senhor
Deus cuide da mamãe e da vovó.
Depois da
oração deitava para dormir e ficava se perguntando quando ela nasceria, quando
brotaria.
Numa
noite chovia e ventava muito quando o menino subiu para dormir, entrou no
quarto e preocupado abriu a janela e viu o ponto branco que tanto esperava lá
no canto da cerca, sentiu medo por ela, fechou a janela, ajoelhou e orou.
- Senhor
Deus, por favor, não deixe que ela morra na chuva, e cuide também da mamãe e da
vovó.
Na manhã
seguinte ele acordou, a chuva havia passado, levantou, abriu a janela e olhou
na direção da cerca, deu um sorriso e fez algo que sempre esquecemos quando
estamos felizes, agradeceu a Deus.
-
Obrigado meu Deus
Foi feliz
pra escola, não se aguentava de felicidade, ela estava lá, bonita, protegida
por Deus, só esperando. A noite antes de subir para o quarto, saiu pela porta
dos fundos e foi no quintal, lá no canto da cerca, voltou, subiu, entrou no
quarto da mãe, depois foi para seu quarto, orou antes de dormir.
- Senhor
Deus, cuide minha mãe e da vovó – Ele pedia sempre por quem mais amava,
esquecia até de si mesmo.
Nessa
noite o menino dormiu com um sorriso nos lábios sem abrir a janela.
Ela
chegou em casa tarde como todos os dias, tomou um banho, preparou algo para
comer, tudo em silêncio para não acordar sua mãe nem seu filho, entrou no
quarto dele, beijou seu rostinho.
- Mamãe
te ama, disse baixinho
Abriu a porta
do seu quarto e viu perto da cama uma tímida flor branca no jarrinho com água,
seus olhos encheram de lágrimas, ao lado da flor tinha um pedacinho de papel
com as doces palavras.
- Eu te
amo mamãe.
Arnoldo
Pimentel
Esse conto faz parte da Trilogia dos Meninos
Leia os outros dois nos links abaixo
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